O Campeão de 2014

Fernando Bonaparte Drumond
10.09.2010
Evento: Copa do Mundo de 2014
Brasil Rio de Janeiro

Durante o período de Copa do Mundo todo o mundo só pensa mesmo nos jogos do time de seu país. No Brasil, pensamos também nos jogos da Argentina, sempre para torcer para o time adversário, não importando muito que time seja esse, mas isso é só um detalhe.

A Copa do Mundo por vir tem um diferencial muito relevante: ela será aqui, no nosso pais, em nosso solo. Por isso, é tempo de sonhar com o capitão de nosso time levantando a grande taça, mas também é tempo de sonhar com as derivações da presença desse grande evento, considerando as influências positivas e negativas que ela pode ter por aqui.

Serão criados muitos empregos, inúmeras obras de infra-estrutura serão feitas, haverá uma considerável aceleração da economia, milhões de dólares serão investidos no pais das mais variadas formas. Parece que não há com o que sonhar, parece que já são realizações maravilhosas. Entretanto, ao olhar para o passado, sabemos que precisamos sonhar cuidadosamente com o futuro.

Vamos sonhar com obras feitas com tempo e de forma cuidadosa e eficiente e não com obras feitas a toque de caixa e com um orçamento absolutamente descontrolado. Vamos sonhar com obras que de fato melhorem a infra-estrutura do pais e não com edificações que sejam abandonadas assim que o último jogo se encerrar.

Vamos sonhar com investidores nacionais e internacionais que se encantem tanto com nosso pais e com nossas pessoas que resolvam continuar apostando no Brasil e com um país que mostre suas belezas, mas que não esconda atrás de muros suas deficiências. Quem sabe, encontrar sonhadores que ao olhar para essas deficiências vejam potência e até beleza, pois ela está em todos os lugares.

Vamos sonhar com uma logística sensata para a Copa e para depois da Copa. Que sejam construídos campos de futebol e estádios que possam abrigar nossas mais alegres torcidas e que esses mesmos lugares possam ser usados para abrigar os mais variados sistemas para agregar valor social à região. Que sejam construídas linhas de transporte que mesmo depois da copa tragam um pouco mais de dignidade para as pessoas que hoje passam até duas horas em pé para chegar aos locais de trabalho. Que as maiores cidades passem a ter uma redes de metrô ao invés de linhas de metrô.

Vamos sonhar alto e desejar que as despesas e custos sejam transparentes para que todos saibam que não se desviou o dinheiro da Copa para a construção de mais algumas casas de praia para uma dúzia de egoístas inescrupulosos. Que durante a copa possamos assistir aos jogos sem desviar nosso olhar de tudo o que “aproveitam” para fazer “por debaixo dos panos”. Nesses casos, “por debaixo da Copa”. Vamos nos interessar pelos jogos, acompanhar os placares, comprar os álbuns de figurinhas e torcer para o nosso time, mas vamos nos interessar também por tudo o mais que estiver acontecendo. Quando há uma distração, aqueles que querem se aproveitar fazem a sua festa particular. Que nessa Copa, os jogos sejam limpos, mas que sejam limpas também as contas que todos vamos pagar por eles.

Falando em limpeza, imaginem se o Brasil for o primeiro pais que reciclar todo o lixo proveniente da Copa do Mundo, seja ele direto ou indireto! E se reaproveitarmos toda a água, se formos o primeiro pais a usar energia limpa e renovável em todos os jogos e meios de transporte?

Eu quero um Brasil vencedor no futebol, na organização, na transparência e na sustentabilidade. Pois já somos campeões em energia, disposição e nos sonhos que temos.