As cidades do Futuro: sustentáveis e inteligentes

Última modificação 11:47, 23 Ago 2010 por  tdascal

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    Nome completo: Carlos Leite
    Data: 23/08/2010
    Artigo Publicado na Revista AU (http://www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo/197/imprime181306.asp)

    Cidade, País: São Paulo, Brasil

    Como as cidade irão se tornar mais inteligentes e sustentáveis

     

     

    Em 1930 o economista John Keynes previu que a humanidade, dali a 100 anos, iria enfrentar seu problema permanente: como usar a liberdade de preocupações econômicas prementes, como ocupar o lazer que a ciência e os ganhos econômicos lhe trariam para viver bem, sábia e agradavelmente? Agora que faltam apenas 20 anos para o cenário proposto por Keynes, talvez seja oportuno nos debruçarmos sobre a grande questão do século: o planeta urbano. Afinal, se o século 19 foi dos impérios e o 20 das nações, este é o das cidades. E as imensas inovações que ora se anunciam ocorrerão no território urbano.

     

     

    O século das cidades: um planeta urbano e a emergência das megacidades

     

     

    Há 100 anos, apenas 10% da população mundial vivia <personname productid="em cidades. Atualmente" w:st="on">em cidades. Atualmente</personname>, somos mais de 50%, e até 2050, seremos mais de 75%. A cidade é o lugar onde são feitas todas as trocas, dos grandes e pequenos negócios à interação social e cultural.

     

    A maioria delas tem concentração de pobreza e graves problemas socioambientais, decorrentes da falta de maciços investimentos em infraestrutura e saneamento. Sua importância na economia nacional e global é desproporcionalmente elevada. Segundo a Unesco, no futuro teremos muitas megacidades e localizadas em novos endereços - das 16 existentes em 1996, passarão a 25 em 2025, muitas delas fora dos países desenvolvidos. Ao mesmo tempo, emergem novas configurações territoriais, como as megarregiões: a BosWashstretch (faixa que vai de Boston até Washington, passando por Nova York), Chonqing, na China, ou a megarregião SaoRio (São Paulo-Rio), conforme recente estudo instigante de Richard Florida, o economista-guru da classe criativa. 

    Richard demonstra que nas próximas décadas o planeta global concentrará crescimento e inovação espetaculares em apenas alguns lugares de pico de excelência: as 40 megarregiões mais criativas (SaoRio já é a 26a em seu ranking). O prêmio Nobel Paul Krugman prevê que o crescimento das cidades será o modelo econômico de desenvolvimento no futuro. Isso porque é nas megacidades que acontecem as maiores transformações, gerando uma demanda inédita por serviços públicos, matérias-primas, produtos, moradia, transportes e empregos. Trata-se de um grande desafio para os governos e a sociedade civil, que exige mudanças na gestão pública e nas formas de governança, obrigando o mundo a rever padrões de conforto típicos da vida urbana - do uso excessivo do carro à emissão de gases.

     

     

    Desafios:

     

     

    É nessas megacidades do futuro que o mundo precisa se reinventar, dividir riqueza para alcançar padrões mais justos e equilibrados de desenvolvimento. Padrões mais sustentáveis não apenas nos necessários desafios ambientais, mas também sociais e econômicos - que se reflitam não mais nos indicadores financeiros, mas em IDH's e pegadas ecológicas. O desafio do desenvolvimento futuro está nas cidades: 2/3 do consumo mundial de energia e aproximadamente 75% de todos os resíduos gerados ocorrem nas cidades. Portanto, falar em mudanças climáticas, aquecimento global e sustentabilidade é falar de cidades sustentáveis. E cidades sustentáveis são, necessariamente, compactas, densas.

     


    Como se sabe, maiores densidades urbanas representam menor consumo de energia per capita: em contraponto ao modelo Beleza Americana de subúrbios espraiados no território, com baixíssima densidade, as cidades mais densas da Europa e da Ásia são hoje modelos na importante competição internacional entre as global green cities, justamente pelas altas densidades e diversidade de usos. Ou seja: cidades sustentáveis são compactas, densas e diversificadas.
    As próximas décadas certamente serão do enfrentamento de algumas mudanças fundamentais nos atuais padrões de desenvolvimento - por exemplo, 170 bilhões de kilowatt-hora são desperdiçados no planeta devido à insuficiência de informações; 18 bilhões de reais por ano é a perda na economia de São Paulo decorrente de congestionamentos.

     


    As cidades se reinventam 

     

    As metrópoles são o grande desafio estratégico do planeta neste momento. Se elas adoecem, o planeta fica insustentável. No entanto, a experiência internacional - de Barcelona a Vancouver, de Nova York a Bogotá, para citar algumas das cidades mais verdes - mostra que as metrópoles se reinventam. Se refazem. Já existem diversos indicadores comparativos e rankings das cidades mais verdes do planeta. Fora dos países ricos, Bogotá e Curitiba colocam-se na linha de frente como cases a serem replicados. Quais são as cidades mais inovadoras atualmente, aquelas que já estão sinalizando as mudanças para daqui a 25 anos? Por que as metrópoles contemporâneas compactas - densas, vivas e diversificadas nas suas áreas centrais - propiciam um maior desenvolvimento sustentável, concentrando tecnologia, novas oportunidades de crescimento, gerando inovação e conhecimento em seu território?

    As metrópoles são o lócus da diversidade - da economia à ideologia, passando pela religião e cultura. E diversidade gera inovação. As maiores cidades do hemisfério norte descobriram isso há alguns anos e têm se beneficiado enormemente desse diferencial, dessas externalidades espaciais - inclusive com atração de investimentos. E têm promovido seus projetos de regeneração por políticas de inovação. Centros urbanos diversificados, em termos de população e usos, com empresas ligadas à nova economia, têm se configurado nas novas oportunidades de inovação urbana em áreas anteriormente abandonadas (
    caso do Barcelona 22@, San Francisco Mission Bay, além de diversas áreas <personname productid="em Nova York" w:st="on">em Nova York</personname>, Boston ou Londres). As cidades inteligentes, as smart cities, expressam a necessidade de uma reformulação radical das cidades na era da economia global e da sociedade baseada no conhecimento

     

    A capacidade de inovação se traduz em competitividade e prosperidade. Alguns parâmetros são fundamentais: presença da nova economia, sistema de mobilidade inteligente, ambientes inovadores/criativos, recursos humanos de talento, habitação acessível/diversificada e e-governance, que deverá incorporar sistemas inteligentes e integrados de governo, transporte, energia, saúde, segurança pública e educação. A democratização das informações territoriais com os novos sistemas de tecnologia de informação e comunicação, favorecendo a formação de comunidades participativas, além de e-governance: serviços de governo inteligente mais ágeis, transparentes e eficientes, por compartilhamento de informações.

    Por fim, devemos ficar atentos às imensas perspectivas que as tecnologias verdes aliadas à gestão inteligente estão abrindo no desenvolvimento urbano de novos territórios, sejam novos bairros sustentáveis (
    por aqui, o pioneiro é o Cidade Pedra Branca Urbanismo Sustentável <personname productid="em Santa Catarina" w:st="on">em Santa Catarina</personname>), sejam cidades inteiras verdes (Masdar, <personname productid="em Abu Dhabi" w:st="on">em Abu Dhabi</personname>, desenvolvida por Sir Norman Foster é o maior exemplo). E as nossas cidades? Decisão política, boas ideias e competência na gestão urbana sempre serão bem-vindas e algumas cidades atuais demonstram isso claramente e jogam otimismo no futuro das nossas cidades.

     

    Curitiba iniciou há 20 anos o processo e suas boas práticas devem ser replicadas cada vez mais, pois a sociedade civil organizada exigirá - como o sistema integrado de transportes coletivos, destacando-se os corredores de ônibus expressos ligados a corredores planejados de adensamento, coleta seletiva de lixo e rede polinucleada de parques.

    Nossas duas megacidades, São Paulo e Rio de Janeiro, trazem parâmetros oportunos importantes. O incrível boom imobiliário atual (terceiro maior do planeta), aliado à pujança do setor da construção civil e à força econômica de São Paulo e Rio, além da concentração, rara no Brasil, dos famosos 3T's - Talento, Tecnologia e Tolerância - defendidos por Richard Florida como essencial para a inovação urbana pode alavancar as desejáveis reinvenções dessas cidades. Resta ao nosso mercado imobiliário incorporar melhor as lições que as cidades campeãs em inovação no mundo estão promovendo ao aliar, à pujança econômica, modelos urbanístico mais interessantes, com maior sociodiversidade espacial, como menos condomínios fechados e distantes. A conurbação territorial ganha inovação importante a partir da chegada do trem de alta velocidade ligando Rio e São Paulo, previsto para começar suas operações em <metricconverter productid="2016. A" w:st="on">2016. A</metricconverter> renovação das infraestruturas dessas cidades já se inicia e promete aliar-se a grandes investimentos públicos e privados nos próximos anos, o que seguramente determinará esta megarregião como a principal não apenas do País, mas de todo o hemisfério sul.

     


    As cidades inteligentes estão chegando
    Pensemos nos carros. Fundamentalmente, eles não mudaram muito desde o pioneiro modelo T de Ford há 100 anos. São peças de design projetadas para transportar várias pessoas, atingir altas velocidades e cobrir grandes distâncias. Um típico SUV (utilitários esportivos, ou sport utility vehicle), por exemplo, chega a ter massa 44 vezes maior do que a do seu motorista. Imaginem a pegada ecológica necessária para a sua construção, além do uso e consumo e de um superado design de ciclo de vida único. Agora pensemos nas necessidades usuais de um verdadeiro carro urbano. Nas grandes cidades do século <metricconverter productid="21, a" w:st="on">21, a</metricconverter> absoluta maioria das viagens é realizada por uma pessoa ou duas. A velocidade média é de menos de <metricconverter productid="20 km/h" w:st="on">20 km/h</metricconverter>. As distâncias são curtas, a necessidade de autonomia de percursos, pequena. O grande problema não se refere ao desempenho automobilístico e sim à falta de lugar para deixá-lo uma vez que 75% do tempo ele está...parado.

    Ou seja, as cidades do século 21 precisam de carros smart: pequenos, leves, de baixíssimo consumo, movidos a matriz energética limpa e de ciclo de vida contínuo (cradle-to-cradle design). Mais que isso: a tendência para o transporte individual nas grandes cidades do futuro (imediato) são carros compartilhados, mobility-on-demand como os que já vêm sendo desenvolvidos pelo Smart Cities Lab do MIT - no Brasil, Jaime Lerner desenvolve um modelo que busca os mesmos parâmetros. 
    O sistema resolve uma imensa demanda atual: espaço. Teremos, em situações ideais, as ruas liberadas apenas para fluxo, sem espaços urbanos desperdiçados com estacionamento. Com isso, ganham todos, pois as cidades poderão resgatar seus espaços mais essenciais e nobres, os de uso coletivo públicos e privados - onde a vida urbana ocorre com maior vitalidade. Começou em Lyon, logo chegou a Paris, Barcelona e Nova York. Na verdade, é tendência para as grandes cidades do século 21: compartilhamento de bicicletas. Deixa-se de ser proprietário de bicicletas para ser usuário.

    Ken Levingstone, ex-prefeito de Londres, quase conseguiu implementar o uso exclusivo do carro compartilhado na City londrina, o lugar mais congestionado do planeta atualmente. Só circulariam no centro de Londres carros compartilhados. São tendências irreversíveis e, naturalmente, o sistema capitalista se reinventa oportunamente. As cidades do futuro serão inteligentes em diversos aspectos. Uma gestão inteligente do território será capaz de propiciar maior agilidade na gestão integrada online das diversas mobilidades urbanas. Essencialmente, transporte público multimodal ágil e competente, como já há em diversas cidades desenvolvidas, mas também sistemas inteligentes de uso compartilhado de transporte individual, de bicicletas motorizadas aos smart city cars. 

    Na verdade, as cidades inteligentes atuarão como um sistema de redes inteligentes conectadas. É natural que as contínuas inovações em tecnologia da informação e comunicação propiciem inúmeras revoluções urbanas. Empresas como a IBM (Smarter Cities), Cisco (Connected Urban Development), Siemens e outras já estão desenvolvendo programas e os ofertando às cidades. Não há mistério. O século 21 mostra, cada vez mais, a substituição da economia fordista industrial pela nova economia: de serviços. É óbvio que as cidades do futuro se pautarão assim também, serão polos numa imensa rede global de conexões inteligentes.